002 - ÍNDICE de Fragilidade em cães idosos
Finalmente, a ferramenta foi validada na medicina veterinária!
ESTUDO
A fragilidade é bem definida em humanos, e caracterizada como uma síndrome clínica decorrente do acúmulo de deficiências, levando à perda da capacidade de reserva fisiológica e ao aumento da vulnerabilidade a incapacidade, dependência e morte. Recentemente, a fragilidade em cães de companhia tem despertado o interesse de pesquisadores devido às similaridades com os humanos em relação ao ambiente, estilo de vida e doenças relacionadas ao envelhecimento.
Um estudo, conduzido pela maravilhosa prof. Natasha Olby, teve como objetivo desenvolver uma ferramenta prática para avaliar o fenótipo de fragilidade em cães, permitindo identificar riscos de mortalidade em curto prazo (6 meses). A pesquisa foi conduzida em duas fases:
Fase 1: Uma análise retrospectiva de 51 cães identificou potenciais critérios para os cinco domínios de fragilidade. Esses critérios foram usados para criar um modelo simples baseado em achados clínicos e perguntas direcionadas aos tutores.
Fase 2: O modelo foi validado prospectivamente em 198 cães com 9 anos ou mais, atendidos em diversos serviços veterinários.
PARÂMETROS AVALIADOS e AVALIÇÃO DE CAUSA DE ÓBITO
A fragilidade foi avaliada com base em cinco domínios principais: nutrição, exaustão, mobilidade, condição muscular e atividade social/cognitiva. Os proprietários dos cães foram solicitados a preencher questionários que abordavam aspectos como apetite, nível de atividade, frequência de ansiedade, quantidade de visitas ao veterinário e níveis de cansaço. Além disso, os cães passaram por avaliações físicas, ortopédicas e neurológicas, onde foram atribuídos escores de condição corporal (ECC) e de condição muscular (ECM).
Dos 198 cães, 55 (27,7%) morreram no ponto final de 6 meses do estudo. As causas da morte eram conhecidas para 53 desses cães (96,3%) e incluíam eutanásia (45 cães; 84,9%) devido a neoplasia progressiva (15), insuficiência cardíaca congestiva (9), problemas de mobilidade (6), inapetência (5), dificuldades respiratórias (4), convulsões (2), insuficiência renal (2), dor (1) e por razões desconhecidas (1); e causas naturais (8 cães; 15,1%) devido a neoplasia progressiva (2), insuficiência cardíaca congestiva (2), insuficiência renal (1), obstrução por corpo estranho (1), enteropatia perdedora de proteína (1) e causa desconhecida (1)
ASSOCIAÇÒES COM MORTALIDADE
Todos os domínios analisados tiveram associação significativa com a mortalidade em 6 meses (p < 0,05), com razões de risco entre 2,55 e 3,99 (Figura 2; Tabela 6). Além disso, o número total de domínios afetados foi fortemente associado à mortalidade em 6 meses (p < 0,0001), com uma razão de risco de 2,12 por cada domínio adicional comprometido (IC de 95%, 1,9–2,65).
A fragilidade geral apresentou uma associação significativa com a mortalidade em 6 meses (p < 0,0001), mostrando uma razão de risco de 4,71 (IC de 95%, 2,66–8,8) e predição de mortalidade com sensibilidade de 73% e especificidade de 70% (Tabela 5). Esses resultados se mantiveram consistentes mesmo após ajustes para idade, peso, raça e sexo.
Entre as variáveis avaliadas, apenas a raça permaneceu significativa: cães de raça pura apresentaram risco de mortalidade 1,85 vezes maior em comparação com cães de raça mista (IC de 95%, 1,04–3,31). Modelos que incluíram o índice de fragilidade apresentaram um melhor desempenho na predição da mortalidade, reforçando a utilidade da fragilidade como uma ferramenta preditiva em cães idosos.
A ferramenta de triagem desenvolvida demonstrou ser aplicável na prática clínica, permitindo a identificação precoce de cães em risco de fragilidade. Os resultados indicaram que a ferramenta poderia ser utilizada para orientar intervenções e decisões sobre tratamentos, além de ajudar na avaliação da tolerância a diferentes terapias e nas decisões de fim de vida. A pesquisa também ressaltou a importância de uma abordagem multidimensional para a avaliação da fragilidade, semelhante ao que é feito em humanos, e propôs um método prático que pode ser facilmente integrado na rotina veterinária.
Os autores concluíram que, embora mais estudos sejam necessários para validar a ferramenta em populações diversas de cães, a triagem de fragilidade representa um avanço significativo na compreensão e manejo da saúde de cães idosos, promovendo intervenções mais eficazes e melhorando a qualidade de vida dos animais.
Leia o artigo na integra: Russell KJ, Mondino A, Fefer G, Griffith E, Saker K, Gruen ME, Olby NJ. Establishing a clinically applicable frailty phenotype screening tool for aging dogs. Front Vet Sci. 2024 Sep 25;11:1335463. doi: 10.3389/fvets.2024.1335463. PMID: 39391218; PMCID: PMC11465091.
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Linkedin da Aline Santana
Aline Santana é dermatologia veterinária e sólida atuação em pesquisa clínica, com background internacional e praticamente todo dia posta algum material interessante, novidades da medicina interna, mercado e gestão. Segue a página dela atualizada Dermaconecta.
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