Epilepsia em Cães Braquicefálicos
Novos Dados Reforçam a Importância da Ressonância Magnética
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Um artigo recente, publicado em 25 de março de 2025, abordou a prevalência de epilepsia estrutural e idiopática em cães braquicefálicos e não braquicefálicos, seguindo as diretrizes estabelecidas pelo International Veterinary Epilepsy Task Force (IVETF).
Importância do Diagnóstico de Epilepsia Canina
A epilepsia é uma das apresentações neurológicas mais comuns em cães, e determinar sua causa subjacente é essencial para o tratamento e prognóstico. A epilepsia estrutural (EE) ocorre quando crises epilépticas são provocadas por lesões estruturais no cérebro, que podem ter diversas causas, incluindo:
Distúrbios vasculares
Condições inflamatórias
Infecções
Traumas
Tumores
Malformações congénitas
Doenças degenerativas
A identificação dessas lesões pode ser feita por meio de exames de imagem, como a ressonância magnética e análise liquórica (RM), sendo um recurso essencial para diferenciar a epilepsia estrutural da idiopática (EI), em que nenhuma causa estrutural é detectada.
Objetivo do Estudo
O estudo teve como objetivo relatar e comparar a prevalência relativa de epilepsia estrutural (EE) e epilepsia idiopática (EI) em cães braquicefálicos e não braquicefálicos, no contexto das diretrizes do IVETF.
Metodologia
Os pesquisadores revisaram retrospectivamente prontuários de cães atendidos em um único centro para investigação de crises epilépticas generalizadas. Os pacientes foram categorizados com base na conformação do crânio, idade, exame neurológico interictal e presença de lesões estruturais identificadas na ressonância magnética.
A análise estatística incluiu o teste U de Mann-Whitney e a análise bayesiana de contingência para investigar associações entre a conformação do crânio, a presença de lesões estruturais e a idade de início da epilepsia estrutural.
Raças Analisadas
Cães Braquicefálicos:
Pug (n = 9)
Bulldog Francês (n = 6)
Boxer (n = 5)
Cavalier King Charles Spaniel (n = 5)
Cães Não-Braquicefálicos:
Crossbreed (n = 12)
Labrador Retriever (n = 9)
Staffordshire Bull Terrier (n = 9)
Border Collie (n = 8)
No total, 34 (30,6%) dos cães estudados eram braquicefálicos, enquanto 77 (69,4%) eram não-braquicefálicos.
Principais Resultados
A prevalência de epilepsia estrutural foi significativamente maior em cães braquicefálicos (61,8%) do que em não-braquicefálicos (22,1%).
A idade mediana no diagnóstico de EE foi de 60 meses em cães braquicefálicos e 108 meses em cães não-braquicefálicos.
Entre os cães com exame neurológico interictal normal, 28,6% eram braquicefálicos e 71,4% não eram. Entretanto, mesmo nesses casos, há uma maior associação entre a presença de lesões estruturais e a braquicefalia.
Cães braquicefálicos com idade entre 6 meses e 6 anos apresentaram uma prevalência significativamente maior de EE do que seus equivalentes não-braquicefálicos (BF10 = 56,7).
Implicações Clínicas
Este é o primeiro estudo a explorar a braquicefalia como um fator de risco para epilepsia estrutural em cães. Os achados reforçam a necessidade de uma abordagem mais criteriosa no diagnóstico da epilepsia em cães braquicefálicos, especialmente considerando:
A alta prevalência de lesões estruturais nessa população.
O início precoce da epilepsia estrutural.
A importância da ressonância magnética na diferenciação entre epilepsia estrutural e idiopática.
Os autores recomendam que veterinários considerem exames de RM e análise do líquido cefalorraquidiano sempre que um cão braquicefálico apresentar crises epilépticas, mesmo quando os sinais neurológicos interictais forem normais. Isso pode impactar significativamente o prognóstico e a escolha terapêutica.
Conclusão
O estudo reafirma que a epilepsia estrutural é mais comum em cães braquicefálicos do que em não-braquicefálicos, ressaltando a importância da investigação detalhada nesses pacientes. A incorporação das diretrizes do International Veterinary Epilepsy Task Force é essencial para um manejo adequado da epilepsia em cães.
Referência
PRODGER, A.; KHAN, S.; HARRIS, G. Prevalence of structural and idiopathic epilepsy in brachycephalic and non-brachycephalic dogs in the context of the International Veterinary Epilepsy Task Force guidelines. Journal of Small Animal Practice, p. 1-7, 2025. DOI: 10.1111/jsap.13857.