Sono e cognição em cães idosos
Características eletroencefalográficas em cães idosos e correlação com seu desempenho cognitivo
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A síndrome da disfunção cognitiva canina (CCDS) é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta cães idosos, sendo comparável à doença de Alzheimer em humanos. Caracteriza-se por sinais como desorientação, perda de memória, dificuldade de aprendizado, alterações nas interações sociais, aumento da ansiedade e mudanças no ciclo sono-vigília.
Distúrbios do sono são comuns em cães com CCDS, manifestando-se por insônia, aumento da vocalização noturna e sonolência excessiva durante o dia. Além de serem um sintoma da doença, essas alterações podem contribuir para sua progressão, já que a eliminação do beta-amiloide, uma proteína associada à neurodegeneração, ocorre principalmente durante o sono profundo.
Embora relatos de tutores indiquem que o sono é prejudicado em cães com CCDS, poucos estudos analisaram essas mudanças de forma objetiva. A polissonografia, considerada o padrão-ouro para avaliação do sono, pode ser uma ferramenta importante para entender melhor essas alterações e contribuir para o manejo da doença.
O estudo
O estudo investigou a relação entre o sono e a cognição em cães idosos por meio de polissonografia, um método que avalia a atividade cerebral durante o sono. Foram analisados 28 cães idosos enquanto dormiam por duas horas à tarde, registrando-se diferentes estágios do sono: vigília, sonolência, sono NREM (não REM) e REM (movimento rápido dos olhos).
Os pesquisadores mensuraram:
A porcentagem de tempo em cada estágio do sono
O tempo necessário para atingir esses estágios (latência do sono)
Parâmetros eletrofisiológicos, como o poder espectral das oscilações cerebrais, a coerência entre regiões cerebrais e a complexidade dos padrões elétricos cerebrais (Lempel-Ziv)
Além disso, avaliaram a cognição dos cães usando o Canine Dementia Scale Questionnaire e uma série de testes cognitivos práticos. Por fim, analisaram as correlações entre idade, desempenho cognitivo e características do sono, buscando compreender se alterações no sono podem estar associadas ao declínio cognitivo em cães idosos.
Registros polissonográficos em cães - Mondino, Alejandra et al.2023
Principais Achados
Redução do sono em cães com declínio cognitivo: Cães com pontuações CADES mais altas passaram menos tempo em sono NREM e REM, confirmando relatos de tutores sobre distúrbios no ciclo sono-vigília na síndrome da disfunção cognitiva canina (CCDS).
Sono e desempenho cognitivo: O tempo total de sono correlacionou-se positivamente com o desempenho em tarefas de resolução de problemas, sugerindo que a privação natural de sono pode comprometer funções executivas, como flexibilidade cognitiva e atenção sustentada.
Alterações na atividade elétrica cerebral: A análise do EEG revelou que cães idosos apresentaram menor potência das oscilações lentas (ondas delta) durante a sonolência, indicando redução na profundidade do sono. Além disso, foi observada maior coerência inter-hemisférica na banda gama durante o sono REM, sugerindo um estado de sono mais superficial com despertares frequentes.
Implicações Clínicas
Monitoramento da progressão da CCDS: Os achados reforçam que a polissonografia e o EEG quantitativo podem fornecer biomarcadores objetivos para avaliar a evolução do declínio cognitivo em cães idosos.
Potencial uso de terapias direcionadas: O reconhecimento das alterações no sono pode auxiliar na escolha de estratégias terapêuticas, como controle ambiental, suplementação com indutores naturais do sono e suporte medicamentoso.
Impacto na qualidade de vida: Melhorar a qualidade do sono pode contribuir para a função cognitiva e bem-estar geral dos cães idosos, reduzindo sintomas comportamentais associados à CCDS.
Limitações e Direções Futuras
As gravações foram realizadas no período da tarde, podendo não refletir completamente a arquitetura do sono noturno.
Estudos futuros podem explorar a relação entre a qualidade do sono e diferentes estratégias terapêuticas, bem como avaliar o impacto da CCDS em diferentes fases do sono REM.
Em conclusão, este estudo reforça a importância do sono na cognição de cães idosos e sugere que alterações eletrofisiológicas podem ser usadas para monitorar e intervir no declínio cognitivo canino.
Referência: Mondino, Alejandra et al. “Sleep and cognition in aging dogs. A polysomnographic study.” Frontiers in veterinary science vol. 10 1151266. 28 Apr. 2023, doi:10.3389/fvets.2023.1151266
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